Fotógrafo baiano vai a Moçambique participar de exposição internacional

Raimundo Cavalhier participará da Inter-Diáspora Sopro Ancestral, em Maputo, entre os dias 01 e 06 de novembro

Foto: Raimundo Cavalhier

O fotógrafo Raimundo Cavalhier é um dos baianos selecionados para integrar a exposição coletiva Inter-Diáspora, que acontecerá em Maputo, capital do país africano Moçambique, entre 01 e 06 de novembro. O Alagoinhense apresentará suas obras no projeto “Sopro Ancestral”, com curadoria de Juci Reis e Jorge Dias, no  Instituto Guimarães Rosa Maputo. O trabalho conta com apoio da Secult/BA.

Sopro Ancestral
O projeto inspira-se em provérbios africanos, combinando narrativas visuais e corporais para resgatar os ensinamentos transmitidos de geração em geração, conectando os saberes afro-brasileiros às suas raízes. A proposta nasce do desejo de honrar a memória dos griôs, os guardiões da tradição oral, que preservam a história e a cultura através da palavra. Raimundo, junto com o videomaker Filipe Oliveira Dias Correia e a performer e educadora Catia Janaina Matias da Silva, busca mostrar como os provérbios carregam valores universais, ao mesmo tempo em que refletem as particularidades das culturas que os originam. Para Raimundo, é uma oportunidade de envolver o público na construção de narrativas que ressoem com suas próprias vivências e histórias.

Narrativas Visuais
A primeira oficina do projeto foca na criação de narrativas visuais inspiradas em provérbios afro-brasileiros. Co-criada por Raimundo Cavalhier e Filipe Oliveira, a atividade convida pessoas de todas as idades a explorar a relação entre imagem e tradição. O objetivo é construir novos significados a partir dos ensinamentos ancestrais, utilizando técnicas de fotografia e vídeo.

A oficina se inicia com uma contação de histórias, seguida pela exibição de episódios curtos da websérie Sopro Ancestral, que retratam provérbios em contextos visuais impactantes. Em um segundo momento, os participantes são orientados a criar suas próprias narrativas visuais, utilizando câmeras, celulares e outros equipamentos. A proposta é despertar o interesse das novas gerações pela ancestralidade e fomentar um espaço de troca intergeracional, onde a criatividade possa ressignificar esses provérbios.

Dança e Sabedoria: Movimentos que Contam Histórias
A segunda oficina, liderada por Catia Janaina, propõe um mergulho nas narrativas corporais, utilizando a dança como meio de interpretar e vivenciar os provérbios. Catia, que é performer e educadora, desenvolve um trabalho especialmente voltado para mulheres de todas as idades, incluindo aquelas com dificuldades de mobilidade. O workshop utiliza técnicas de respiração, sensibilização corporal e danças contemporâneas para ajudar as participantes a encontrar um ritmo e uma expressão que ressoem com a sabedoria ancestral.

Uma Proposta de Resistência e Identidade
Sopro Ancestral é mais do que uma websérie; é um convite à reflexão sobre a ancestralidade e a identidade. Para Raimundo Cavalhier, esta proposta representa uma forma de resistência cultural, reafirmando as heranças afro-brasileiras e suas conexões profundas com o território baiano. Em suas palavras, “os provérbios são sopros de sabedoria que atravessam o tempo e nos ajudam a lembrar quem somos e de onde viemos”.

A proposta é aberta ao público e não requer experiência técnica ou artística. Raimundo, Filipe, Catia e Juci Reis esperam que as atividades sirvam como um espaço de troca, criatividade e aprendizado, onde todos possam descobrir novas formas de valorizar e perpetuar os ensinamentos ancestrais.

Sobre Raimundo Cavalhier
Raimundo Cavalhier é um artista do interior da Bahia que se destaca como fotógrafo, arquiteto e pesquisador. Suas obras se concentram em projetos profundamente ligados à identidade, ao território e à memória, explorando as políticas de vida que moldam o cotidiano. Raimundo desenvolve trabalhos artísticos em fotografia, vídeo e objetos, utilizando sua arte para investigar questões de pertencimento, resistência e diversidade. A ancestralidade é o alicerce fundamental de sua produção, e ele captura, através de suas criações, a riqueza da experiência negra e a força ancestral que permeia sua trajetória criativa.

Nascido em Alagoinhas, Bahia, uma cidade batizada em homenagem à abundância de rios e lagoas na região, Raimundo foi criado na Comunidade do Buri, um quilombo cortado pelo Rio Catu. Esse rio, utilizado pela comunidade para diversos fins, é uma presença constante em seu trabalho sobre memória, o qual ele chama de “percurso ciliar”, inspirado pela vegetação que acompanha e protege os cursos d’água. Assim como a mata ciliar, que preserva e nutre os rios, Raimundo busca, em suas criações, valorizar e manter vivas as memórias e raízes de seu povo.